Esses últimos dias longe não foram planejados.
Foram uma resposta. Do corpo. Da mente. Da alma.
Sou profissional da saúde, trabalho com saúde mental. Acolho crises, escuto histórias, ensino caminhos e encurto-os. As vezes precisamos ser forte o tempo todo,
fortaleza, cuidado para com o outro e uma gaveta de sentimentos, palavras, preocupações.
Mas dessa vez, fui lembrada que também sou humana. Tenho altos e baixos, e sim, mesmo com toda bagagem que trago, não estou imune.
Com isso, lembrei-me que não preciso também ser ou parecer forte o tempo todo. A maioria das vezes compartilhamos apenas sobre as coisas que nos são favoráveis ou que queremos transmitir, porém, julgo necessário compartilhar o que nos tira de nós.
Há pouco mais de um mês, depois de um longo tempo, venho enfrentando uma onda forte de d3pr3s4o, ans1edad3 e crise de p4nic0 com sintomas físicos e emocionais intensos que se intensificaram nos últimos dias.
Um combo que me tirou das consultas, das redes e até do básico diário.
Aperto no peito, nó na garganta, o corpo sem energia, a mente sem clareza e sintomas físicos reais — porque o que é emocional também se manifesta no corpo. Gastrite, fadiga, isolamento, falta de apetite e isso é sério. E não se resolve só com força de vontade. Não é drama, preguiça, irresponsabilidade ou falta de fé.
É o cérebro em pane, o corpo em alarme. É o sistema nervoso pedindo socorro. Reações químicas em pane. A bioquímica muda. Os hormônios saem do eixo. A comunicação entre nossos neurônios falha.
O corpo sente. E grita.
E a única resposta possível é: parar. Sentir. Cuidar.
Falar sobre saúde mental exige coragem, mas viver com saúde mental exige mais ainda.
E quando nos calamos diante do sofrimento, damos espaço para ele crescer em silêncio e se manifestar sem controle.
Nem sempre conseguimos evitar o impacto das influências externas, das palavras e atitudes de quem nos cerca.
Algumas relações têm peso. E precisamos aprender a colocar limite, filtrar, e principalmente: não absorver tudo como verdade sobre nós.
Existe uma linha tênue entre sermos fortes e estarmos exaustas. E às vezes, não é sobre cansaço. É sobre colapso.
Quero agradecer de coração a cada paciente que me escreveu com carinho, dizendo que precisa de mim bem e compartilhou avanços. Vocês nem imaginam o quanto essas mensagens me fortaleceram. Isso aquece e me lembra do porquê escolhi essa profissão. Vocês não imaginam o quanto fazem diferença.
Não sou um robô.
Nem você é.
Carne, neurônios, hormônios, histórias, cicatrizes e fases me compõe.
E é preciso falar sobre isso.
Falar que saúde mental não tem aparência.
Falar que não basta saber — é preciso sentir, respeitar, acolher.
E por mais que eu saiba o caminho de volta, às vezes preciso me permitir parar um pouco, sentir, acolher e fortalecer antes de segui-lo. E isso não é do dia para a noite. Respeitar-nos e respeitar nosso tempo impede maiores agressões conosco mesmo.
Se você também sente que precisa desacelerar, acolher-se, respeitar-se, faça isso.
Rede de apoio, terapia, autocuidado… tudo isso importa. E salva.
Se você está passando por algo parecido: não se cobre. Não se esconda.
E, principalmente, não tente ser uma máquina num mundo que exige cada vez mais da gente.
Se respeitar é um ato de coragem.
Se acolher é uma forma de cura.
Pedir ajuda é um passo necessário.
Obrigada por estarem aqui.
Em breve volto a cuidar com ainda mais empatia, leveza e verdade. Mais forte.
Com carinho,
Lari.

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