Singularidade e Pluralidade de um Relacionamento

 

Eu sempre soube que o amor não era tudo para se estar com o outro. Amor é 40% mas os outros 60% é muito mais que isso, inclusive decisão, decisão diária. De que se compõe também o corte (cisão). 

Entretanto, por muito tempo pensei que a base de um relacionamento sólido e saudável era o diálogo, mostrar seus pontos de vistas, como se sente, ser sincera em como recebeu o que o outro transmitiu, deixar o outro saber, na real, mesmo que não tenha sido o intuito dele, mas que assim, acolhendo o que e como se está a pessoa amada, seja e deixe-se claro o intuito real versus o que foi passado. Mas de uns tempos pra cá, eu percebi que na verdade é a base não era o diálogo, mas a compreensão

Não adianta falarmos falarmos falarmos, mostrar nosso ponto de vista ou tentarmos ser o mais transparente possível se o outro tem uma convicção e não consegue te alcançar, te atingir, te compreender.

Nessa altura da vida, todo mundo trás em si marcas, manchas, resquícios de um passado, de sua história, de pessoas que passaram, entraram, saíram de nossas vidas. Trazemos traumas, medos, aprisionamentos. Trazemos personalidades, armaduras e até mesmo muros criados para não nos machucarmos ou só nos defendermos. E é tão difícil se abrir de novo e deixar isso tudo de lado para podermos tentar, do zero, sem pensar que irá ser o mesmo fim de todas as outras vezes. É um desafio constante! 



A gente tenta ser tão compreensivo para que o outro se sinta acolhido, amado, aceito, que as vezes esse excesso de compreensão se torna autodestrutivo, por deixar passivo diante da própria vida, como se sempre tivessemos que ser assim e nunca se impor, colocar também nossa vontade, e aí, quando agimos diferente, nunca se há compreensão! Como se fossemos sempre fortaleza e nunca precisássemos também, ou que, pela nossa força, a gente se contente em sempre buscar a saída e a solução só, sem querer apoio, auxílio. 

Não é que precisemos, mas as vezes, faz-se necessário, desejoso disso. 

E por tudo que já aconteceu, quando há indícios que levam a mesmos sentimentos, lugares, sensações e situações, bate um certo medo de tudo acontecer de novo. De compreender demais e aceitar demais e legitimizar os nossos desconfortos e não nos permitir tomar postura ativa frente a eles. 



Por vezes eu optei por ser apenas compreensiva, por saber que em um relacionamento ambos precisam ceder para dar certo, ninguém vem pronto e, por querer muito que de certo, deixei muitas vezes meus incômodos em nome da compreensão e tive de resposta anulação do que eu sinto. Quando eu precisava disso, nunca tinha. 

A vontade própria, o achismo, convicções e pontos de vistas por vezes deixa de lado a preocupação, cuidado e compreensão. E se nós mesmos negligenciamos nossas feridas, somos passivos ao que nos machuca, como queremos que o outro faça diferente? Aprendi então que o excesso de compreensão para com o outro é o desfalque da autocompreensão, e iniciei ao exercício de, pela primeira vez na vida, me colocar a frente de quem amo e não consegue compreender e respeitar o que sinto.




Aprendi que são nossas diferenças que nos dividem, é a incapacidade de reconhecer, aceitar e celebrar essas diferenças. Nossa incapacidade de ceder, compreender e respeitar, mesmo que não se concorde. 

Não há como se ter um relacionamento singular na pluralidade. 

Ou você é e está com quem se ama, e deseja construir algo, ou você é individual.

Não há como pensar só em que se acha, se sente e impor isso ao outro. Amor se constrói no coletivo, a terceira pessoa criada por duas, é quem se torna quando se tem o outro, e em uma junção do equilíbrio de dois, sem passar por cima dos limites e sem deixar de ser quem se é. Com respeito, carinho, aberto e, sobretudo, decisão e vontade de acertar e fazer dar certo.



Precisamos de individualidade, mas não podemos ser individuais num relacionamento que desejamos e pretendemos algo a mais e não viver só de hoje. Ja disse aqui no blog uma vez e retorno a essa postagem, faz-se necessário distinguir quem é para vida de quem é para viver momentos! 

Essa terceira pessoa criada, que nos encanta ou desencanta. Quem nos tornamos com o outro, o que sentimos na presença, o que nos acrescenta, ou o contrário de tudo isso!

E é exatamente aí, a diferença e o que nós faz escolher alguém para estar ao nosso lado.  Ser individual no nosso coletivo, se assim desejarmos. O respeito sobre o que o outro sente, independente se concordamos, é a compreensão e o acolhimento. A decisão de amar nas diferenças e imperfeições e, principalmente, além delas.



Reflexiva,

Lari.

Comentários